O Seminário “Conectando peixes, rios e pessoas”, que faz parte da celebração global do Dia Mundial da Migração de Peixes (World Fish Migration Day), reuniu cerca de 250 pessoas interessadas acerca da importância dos rios e dos peixes migradores. O evento foi realizado no dia 23 de outubro, de forma online, e foi organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Recursos Pesqueiros (PPGCARP), pelo Laboratório de Ecologia Pesqueira (LABEP) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com apoio do Instituto Piatam e da Wildlife Conservation Society (WCS-Brasil).

A organizadora do evento e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Recursos Pesqueiros e do Laboratório de Ecologia Pesqueira da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Dra. Flávia Souza, ressaltou a importância da conservação dos peixes migradores e dos ambientes aquáticos. “Esse evento ocorre de forma global a cada dois anos para conscientizar a todos nós da importância de conservar os recursos pesqueiros e o ambiente em que eles vivem, contribuindo para a movimentação dessas espécies em corpos d’água amazônicos. A ideia é trazer a temática para as pessoas que ainda não conhecem o conceito de peixes migradores e qual sua função no ecossistema. A pesca é uma atividade importante na nossa região, pois é fonte de renda de pescadores, e proteína de qualidade e baixo custo para a população ribeirinha. Então, há todo um componente de preocupação e de cuidado que a precisamos ter”.

Para as boas-vindas, o presidente do Instituto Piatam, Dr. Alexandre Rivas, destacou a preocupação do Instituto com a questão pesqueira. “O Instituto Piatam nasceu de um projeto que foi desenvolvido por 14 anos dentro da Ufam e depois ganhou vida própria, e que sempre teve as ciências pesqueiras como uma linha forte dentro do Instituto, desenvolvendo muitas pesquisas e de alguma forma contribuindo para o entendimento das questões relacionadas às ciências pesqueiras. Para nós é uma honra participar de um evento de classe internacional”.

A WCS Brasil foi a instituição parceira do evento e também disponibilizou todo o aparato tecnológico para a realização do evento. O representante Guillermo Estupiñán explicou que a WCS é uma organização que tem trabalhado pela conservação de paisagens aquáticas, que são importantes sistemas para a biodiversidade amazônica.” Temos focado muito em peixes migradores por indicarem para nós a saúde do ambiente, da floresta e dos rios e também por serem importante fonte de alimento e renda. Como sabemos, os peixes são organismos que precisam de um ambiente saudável e por isso a conservação de peixes migradores é uma das estratégias que fazem parte da WCS Brasil”

A representante da Pró-reitoria e Pós-graduação (Propesp) da Ufam, Dra. Adriana Malheiros, agradeceu a participação e ratificou a importância deste evento. “Nos sentimos muito felizes por um evento deste porte está acontecendo na Ufam, mesmo nesse momento que tanta dificuldade que estamos enfrentando em virtude da pandemia. Se por um lado a pandemia tem nos afastado, nos deixado mais distante daqueles mais próximos, tem nos aproximados daqueles mais distantes, como, por exemplo, esse evento hoje, que conta com a participação de pessoas de vários países”.

A mesa-redonda “As pequenas e grandes migrações de peixes da Bacia Amazônica, moderada pelo professor Dr. Carlos Freitas, do Instituto Piatam, contou com a participação do professor Dr. Ronaldo Barthem, do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), Dr. Fabrice Duponchelle, do Institut de Recherche pour le Développement (IRD), e do professor Dr. Miguel Petrere, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O professor Dr. Ronaldo Barthem, pesquisador titular da Museu Paraense Emílio Goeldi, com experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia de Ecossistemas, abordou o tema: Migração dos peixes de importância comercial na planície amazônica. Barthem afirma que a migração dos peixes na Amazônia tem a função de manter a entrada de energia entre as estações do ano. “O pulso de alagação das planícies gera extensas áreas alagadas, que são as principais zonas tróficas dos sistemas alagados. Os peixes movem-se para as áreas alagadas durante o período de cheia e voltam para os rios e lagos durante o período de seca. Esse movimento de ida e volta pode ser caracterizado como migração. Os peixes migradores são cruciais para o abastecimento de cidades na Amazônia”.

Em continuidade à mesa-redonda, Dr. Fabrice Duponchelle apresentou o tema “Os padrões migratórios dos grandes bagres pela perspectiva da microquímica dos otólitos”. Dr. Fabrice estuda estratégias de história de vida de peixes em relação às restrições ambientais, naturais e antropogênicas que eles se encontram. “Os otólitos (concreções de carbonato de cálcio presentes dentro de câmaras no aparelho vestibular do ouvido interno dos vertebrados) funcionam como caixas registadoras das condições ambientais em que vivem os peixes, permitindo fazer uma análise quantitativa para deduzir o habitat do peixe em um determinado tamanho ou idade. Os bagres constituem um dos principais recursos pesqueiros da Amazônia, além de exercerem relevante papel ecológico, como predadores de topo da cadeia alimentar”.

Encerrando a mesa-redonda, chamamos Dr. Miguel Petrere, falou sobre “Manejo de estoques de peixes migradores e não migradores na Amazônia”. Dr. Miguel tem experiência na área de Recursos Pesqueiros continentais e marinhos e em Estatística Experimental. “Os grandes migradores na Amazônia sempre foram muito importantes para pescaria comercial na década de 70 e 80 em Manaus, pois, 80% do pescado era produzido por três espécies: tambaqui, curimatã e jaraqui. Hoje, o desmatamento da várzea provocou um impacto na reprodução do tambaqui. Com o passar do tempo, as viagens de pesca passaram a buscar locais cada vez mais distantes dos grandes centros”.

Se você não assistiu ao evento no dia, clique no link e confira: