Olhar pela janela do hotel e contemplar um ritmo frenético nas ruas, dentro de um cenário cosmopolita, repleto de grandes edifícios, gente circulando e a vida passando acelerada. Pode-se dizer que essa é a imagem de toda e qualquer cidade grande, com suas características e personalidade. Curioso é falar o mesmo de uma cidade incrustada em plena floresta amazônica, cercada de verde e água por todos os lados, conhecida por ser um gigantesco polo industrial e o coração da Amazônia.
Com quase dois milhões e meio de habitantes, Manaus, a famosa cidade da Zona Franca viu seu crescimento multiplicar nas últimas décadas no mesmo ritmo em que questionamentos surgiram em grande escala, especialmente de parte do planeta que desconhece essa região e seu estilo de vida. Seria possível crescer tanto, produzir tanto e preservar a mata? Garantir a vida das espécies? Evoluir de maneira sustentável?
A primeira edição de Feira de Sustentabilidade do Polo Industrial de Manaus – Fespim 2019, provou que sim. Com as experiências apresentadas pelos expositores em 130 estandes, palestras e as histórias contadas por quem vive e faz essa história. Como por exemplo a empresa japonesa Daikin, presente no Polo Industrial de Manaus desde 2014. Líder mundial em condicionamento de ar apresentou no evento e para visitas de convidados à sua unidade industrial, o R-32, o gás ecológico considerado a próxima geração de fluído refrigerante para aparelhos de ar-condicionado sem impacto ambiental, saudável e com reduzido potencial de aquecimento global.
Em outra visita e também vendo de perto as experiências expostas na Feira, estava o Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia. Há 15 anos em Manaus o Sidia é uma referência mundial em soluções digitais inovadoras ao combinar tecnologia e sustentabilidade. Fundado pela Samsung em 2004, durante a semana da Fespim inaugurou o Sidia Amazon Tower, sua nova e ecoeficiente sede. Com 16 mil metros quadrados, o Instituto e seus 900 funcionários dão uma verdadeira aula de eficácia quando o assunto é local de trabalho sem impacto ambiental. Desde os banheiros, passando pela iluminação 100% LED, coleta seletiva, fim dos copos descartáveis e utensílios plásticos e uma gestão ambiental que ultrapassa suas paredes e impacta milhares de moradores da capital do Amazonas.
A gerente administrativa do empreendimento, Vania Taumaturgo Capela lembrou em sua entrevista que o Estado do Amazonas preserva 96% da floresta graças ao polo industrial. E investir 5% do faturamento da empresa em pesquisa, levar tecnologia e conhecimento para o Brasil e mundo a partir de Manaus, valorizar os colaboradores são aspectos relacionados a propósitos reais do Instituto e seus parceiros. “Faz todo o sentido participar e apoiar um evento como a Fespim, já que a indústria pode ajudar a região a crescer mais, dentro de uma existência sustentável, que valorize a vida”, destacou.
Já o organizador do evento, Orsine Oliveira Junior, disse que é preciso não confundir as coisas quando o tema é sustentabilidade. “Não estamos falando apenas de reciclar, mas também de preservar, que é tão, ou mais, importante”, afirmou.
Ele considera que abertura da feira foi “espetacular”, com a presença de 1,5 mil pessoas somente no período da manhã, quando houve a participação do presidente Jair Bolsonaro.
Por falar em presidente, ele abriu o evento, visitou a Feira e atendeu a imprensa, quando voltou a destacar a manutenção do modelo Zona Franca de Manaus, em seus propósitos de crescimento, geração de empregos, pesquisa e sustentabilidade, com foco na preservação da floresta ao redor. A retomada das obras na BR 319, ligando Manaus a Porto Velho e a descentralização da Suframa com o resgate de suas funções primordiais.
Estratégia de Sustentabilidade
Quem também esteve na Feira e recebeu convidados para mostrar diversos modelos de produção sustentável foi a Honda da Amazônia. Que tem em Manaus a maior fábrica da marca em todo o mundo, chegando a produzir mais de quatro mil motos por dia. Instalada no Polo Industrial de Manaus desde 1976, a empresa fortalece desde então sua cadeia produtiva investindo em tecnologias avançadas em plena harmonia com a preservação ambiental. Em visita à fábrica pudemos conferir diversas ações ligadas a esse propósito, como gerenciamento de resíduos, uso racional da água, eficiência energética e respeito à biodiversidade através de reservas que se tornaram patrimônio natural ou projetos agrícolas com cultivos sustentáveis de alimentos e espécies nativas.
Durante toda a Fespim cerca de 5 mil visitantes por dia puderam constatar essas experiências citadas aqui e muitas outras, como os investimentos focados em redução de desperdícios e busca incessante por qualidade da Rubberon, que combina manufatura enxuta com práticas de sustentabilidade no segmento plástico no Polo Industrial.
O mesmo pode se dizer do Porto Chibatão, o maior porto privado da América Latina, que alcança qualidade e foco em ações sustentáveis no dia a dia de mais de 3,5 mil trabalhadores diretos, mesmo em se tratando de uma operação tão complexa.
Inspiração
A Fespim foi sem dúvida um divisor de águas. Como as que a gente pode ver do alto quando visita o Instituto Soka, de onde vislumbramos a beleza dos rios Negro e Solimões e conhecemos ações que comprovam sua proposta de paz em um mundo melhor, focada no ser humano. Um exemplo é o Projeto Semear, em parceria com a Panasonic, que promove o plantio de uma árvore para cada criança que nasce em Manaus, envolvendo sua família no conceito de amor à vida e ao planeta, deixando-o nas mãos de quem saberá dar o valor que ele merece.
Encontro das muitas águas
Impossível encerrar esse relato sem falar do espaço na Fespim reservado às ações sociais e sustentáveis da Prefeitura de Manaus e Governo do Estado, mas especialmente aquelas que abrem alas para o artesanato, a cultura e tradição dos povos nativos, a poesia da floresta, a música original de uma região única e a beleza autóctone de sua gente. Quando comprei uma aliança de tucumã com o desenho do encontro das águas me senti mais próximo de tudo o que vi e vivi no evento e cidade que me abrigaram. Foi como se o encontro não fosse apenas das águas, mas das almas, dos povos, das gentes, da espécie que ainda pode salvar e cuidar bem do que temos.
Fonte: Revista Veja
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